quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Rabiscos


Acordei cedo durante esta manhã. O sol lá fora parecia mais vivo do que nunca. Os pássaros cantavam uma canção que eu jamais havia escutado; seus sons pareciam ainda mais vibrantes com os pousos que faziam ao voltar para os seus ninhos. Era primavera, e as flores rodeavam a casa como se fossem guardiãs da paz; suas cores eram tão belas quanto um caleidoscópio. A vida nunca fora tão bela quanto agora. E eu sabia que esse estado duraria para sempre. Eu sabia que a vida havia me reservado paz em baldes. Sentei-me à mesa para apreciar o desjejum com a família. Julia não poderia estar mais bela do que estava nesta manhã. Seus cabelos esvoaçavam-se quando o vento batia neles; sua pele pálida luzia com o brilho do sol; e seus olhos transbordavam de alegria ao se encontrarem com os meus. As crianças brincavam ao lado da mesa. Eram duas lindas meninas, tão belas quanto a mãe. A paz reinava em nossas almas. Duas almas límpidas e calmas, dois corações apaixonados; a vida sempre fora incapaz de nos fazer mal.
    Durante a noite cantamos cantigas para as meninas dormirem. Cantigas que escutávamos quando éramos apenas crianças e vivíamos num rancho da família. Julia foi criada pelos meus pais desde que viera ao Mundo. Sua mãe a deixara aos cuidados de meus pais porque se achava incapaz de cuidar da criança. Mas Julia e eu, embora tivéssemos recebido educação dos mesmos pais e vivêssemos como se fôssemos irmãos, nunca sentimos sentimentos de irmandade entre nós. Certa vez, quando fomos a um rio afastado de casa, ela me perguntara se eu a achava bonita, e eu respondi que sim. De início, achei sua atitude normal, mas, depois de vê-la repetidas vezes olhando para mim de forma terna, senti algo diferente por ela. Sempre fazíamos tudo juntos. Éramos praticamente grudados um no outro.

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